O Falso Liberalismo

            No Brasil as siglas partidárias em geral não expressam os nomes dos partidos que representam, são enganadoras. O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) apesar do nome de centro esquerda, abriga alas de centro direita, com liberais progressistas e democratas cristãos, e hoje, com João Doria (SP), Eduardo Leite (RS) e Nelson Marquezan (Porto Alegre), desponta como grande representante do neoliberalismo no país. Deputados abrigados num Partido Trabalhista votam contra os interesses dos trabalhadores, como os do PDT que votaram a favor da Reforma da Previdência que diminuirá o valor da aposentadoria dos mais pobres. Na época da ditadura militar, o PFL (Partido da Frente Liberal) era de situação, ou seja, pseudo liberais no Brasil apoiavam a ditadura. E hoje, com o Governo Bolsonaro, temos no poder um falso liberalismo.

            Os Chicago Boys, que fizeram as reformas econômicas de Pinochet no Chile, eram falsamente liberais, porquanto apoiaram uma ditadura repressiva e criminosa, que se instalou na base de torturas e assassinatos em massa. Do mesmo modo o bilionário Paulo Guedes, ministro da Fazenda de Bolsonaro, também é um falso liberal, mesmo defendendo uma economia radicalmente neoliberal, isto porque o Governo Bolsonaro é, de fato, um fascismo disfarçado.

            O presidente Bolsonaro não consegue disfarçar seu radicalismo de extrema direita e opiniões ultraconservadoras, na verdade pior que conservadoras, porque ele não quer conservar o status político vigente, e sim fazer terra arrasada de todos os valores já consagrados pela ONU, como um pacto entre as principais nações do mundo. Bolsonaro declarou que a “o erro da ditadura foi torturar e não matar” quando, na verdade, matou e muito. O presidente tem como herói o torturador Brilhante Ustra e prega a volta da censura, quando pretende cortar verbas públicas para filmes que não estejam de acordo com a sua ideologia e para artistas que se alinhem na oposição ao Governo. O seu Governo cortou remessa de recursos para universidades acusadas de apoiar manifestações de estudantes e professores, e proíbe professores de divulgar movimentos sociais, e pretende implantar uma educação com uma única ideologia, a sua. De fato, vemos a verdade e ciência serem substituídas pelo discurso do ódio e pela ignorância que pretende erradicar a liberdade de pensamento e o pluralismo no debate.   

            Bolsonaro ataca a imprensa, e a culpa pela repercussão negativa de todos os absurdos que saem de sua boca presidencial, e ataca o PT, como se ele fosse o único partido a ter políticos atingidos pela Lavajato, passando também ao largo de todos os denunciados que estão ocupando cargos em seu Governo. E o que é pior, silencia quando seu filho torna-se responsável por suspender, por decisão do ministro Luiz Fux do STF, todos os processos por lavagem de dinheiro e corrupção que se baseiem em dados do COAF sem decisão judicial, beneficiando quase todos os corruptos já condenados e por julgar, assim como o crime organizado. E para acentuar mais ainda o traço autoritário e personalista, Bolsonaro pretende indicar como embaixador do Brasil nos EUA seu próprio filho que, pasmem, tem como principal credencial para ocupar o mais importante posto do Itamaraty, o fato de ter fritado hamburger na terra de Trump, e isto quando existe uma lei que proíbe o nepotismo na administração pública. Bolsonaro na verdade propositadamente ignora a nossa Constituição, quando faz declarações racistas e discriminatórias contra os nordestinos, os gays e transgêneros, quando defende um evangélico para ocupar cadeira no STF, quando acusa o Congresso de torna-lo “rainha da Inglaterra”, por não deixar que ele governe. Bolsonaro é clara e declaradamente contra a democracia participativa e a Constituição, quando pretende extinguir Conselhos junto ao Governo, e ao não conseguir extingui-los, retira deles os representantes da Sociedade Civil e os especialistas de notório saber. Ignora ele as listas tríplices para os cargos que o presidente tem de preencher por este sistema, indicando os menos votados ou nomes fora das listas. Por fim, quando o Congresso rejeita alguma medida provisória do Governo, Bolsonaro, contra a Constituição, a reedita, forçando a sua vigência contra a vontade do Legislativo. Assim, alinhado com as ditaduras e governos autoritários do mundo, Bolsonaro vira do avesso a política externa brasileira, criando constrangimentos aos diplomatas de carreira e tradicionais parceiros e aliados, criando problemas desnecessários às nossas relações internacionais. 

            Assim, está mais que claro e explícito que Bolsonaro é um fascista disfarçado de liberal, e que os ditos liberais do Governo são falsos, pois se contradizem ao participar e apoiar um Governo notadamente antidemocrático e contrário às liberdades individuais. Fica aqui o registro do respeito que merecem os liberais que não apoiam Bolsonaro, com estes a centro esquerda precisa se unir para fazer o Brasil de novo avançar, em vez de retrocede  r.