A genealogia de Jesus

          Em verdade vos digo, que as aludidas genealogias de Jesus são a genealogia de José, seu pai legal, de empréstimo, o que assegura a Jesus todos os direitos de herança. A verdadeira genealogia de Jesus é a de Maria, pois se Jesus é Filho de Deus, como consideram os seus seguidores, e nasceu por obra do Espírito Santo, sua genealogia paterna é celestial e não terrena. Mesmo os que consideram Jesus, como ele próprio se chamava, Filho do Homem, ou seja, alguém feito da carne, crêem que José ia rejeitar Maria por vê-la grávida antes de com ela ter consumado o matrimônio prometido, e só não o fez por interferência do Arcanjo Gabriel. De sorte que Jesus, mesmo sendo Filho do Homem, não seria Filho de José, cuja ascendência remonta a Abraão, Jacó, Davi e Salomão. Todas as gerações que antecederam a José (catorze de Abraão a David, catorze de Davi ao desterro e prisão na Babilônia, e desde aí mais catorze até Jesus) apenas prepararam o caminho. José foi o terreno aonde a semente de Jesus viria a crescer, florescer e frutificar. Mas tal semente não lhe era própria, Jesus era perante José um filho adotivo.

           Se nos cabe tratar da gênese do Rabi, pois é ela que poderia lhe dar a estatura de Messias, precisamos considerar suas origens por linhagem feminina. Afinal, são as mulheres que transmitem o sangue judeu e sua tradição. Maria foi a Matriz, de sua carne nasceu Jesus, daí que a genealogia de Maria é a mesma de seu Filho. Porém, Maria era filha de Joaquim e Ana, cuja genealogia também teve dois grupos de catorze gerações que remontam a Aarão e não David, assim como a ascendência de Zacarias, casado com Isabel, sua prima, ambas de famílias sacerdotais da tribo de Levi: Maria de Bilga e Isabel de Abia. Assim, o Filho do Homem em verdade é Filho da Mulher, é através do feminino que Deus enviou à Terra a sua mensagem, o Pai de certa forma é Mãe. E se o Pai é Mãe e o Filho e o Pai são Um, o Filho sentado à direita de seu Pai em verdade é o Filho deitado no regaço da Mãe, retornando ao útero, voltando às origens: carne entre carnes.