A Experiência do Fracasso

A Copa de 2014 da FIFA no Brasil foi um sucesso, enquanto o futebol brasileiro amargou um rotundo fracasso. É claro que a seleção brasileira chegar às semifinais é uma façanha em si, que pode ser considerada como um sucesso. E mesmo perder alguma partida e sair da Copa faz parte do jogo. Só não faz parte do espetáculo o humilhante vexame de levar 7 X 1. Discordo de que seja inexplicável, até podemos escolher as explicações, que tampouco necessitam ser de técnica futebolística. Os jogadores brasileiros desabaram ao levar os dois primeiros gols, como se levar gol e perder não fizesse parte das probabilidades e, com o apagão que se seguiu, conseguiram levar mais cinco gols fazendo apenas um, resultado de times de várzea, protagonizando o maior fiasco da história do futebol brasileiro.

A primeira de todas as causas é o modo do povo brasileiro, insuflado pela mídia e os políticos, olhar o futebol no país. Somos “o país do futebol”, como se aqui não houvesse a prática de outros esportes, e como se a brasilidade se reduzisse a um circo, ou seja, a divertimento e lazer: futebol, carnaval, praia, gente bonita fazendo festa. A economia para em função do futebol, as escolas e universidades mudam seus calendários, as pessoas se vestem, pintam e enfeitam como se fossem a um dos principais eventos de suas vidas. É como se todas as frustrações e dificuldades do dia-a-dia fossem purgadas nas jogadas de nossos jogadores. Precisávamos “cair na real”, e temos de agradecer à Alemanha por isto. Vi jogadores alemães festejando pouco, o técnico alemão sequer sorria ao final da partida: são profissionais, e teriam um outro embate pela frente.

Os nossos jogadores são infantis, emocionais, chorões e, ao mesmo tempo, prepotentes por se acharem os melhores, portanto, incapazes de levarem gols e se manterem em pé. Eles precisam ser profissionais, no sentido de fazerem jus a seus salários, suando a camiseta, sendo focados, e não desmoronando quando a situação está adversa e exige reação. Mas para isto precisamos olhar o futebol como ele é: apenas uma modalidade esportiva, não a identidade da nação. Precisamos ser racionais, como os alemães, e organizarmos o esporte no país, incluindo os nossos clubes esportivos, com seriedade, lisura, ética, transparência e visão de futuro. Não podemos pensar em incentivar e amparar o esporte olímpico apenas na véspera das olimpíadas, como não podemos ter uma seleção combativa sem visão de longo prazo.

O filósofo Nietzsche considerava o fracasso algo que poderia ser edificante, porque, dependendo de como reagimos a ele, poderia nos fazer mudar para melhor. Mas sofrimento aliado a humilhação pode também lançar na depressão e na baixa autoestima, daí que saber “dar a volta por cima” é a chave do negócio. E para isto teremos de deitar no divã, fazer autoanálise, perceber o que estava oculto, o que se passava dentro, e trazer à luz um novo eu. Se depender de mim, ser brasileiro passará a ser ter orgulho do país que estamos construindo a partir de nosso trabalho, apesar dos problemas a serem resolvidos e dos desafios a serem superados. Há um Brasil que quer crescer em saber e em fazer, que quer se desenvolver mais, mas com consciência social. Voto para que o Brasil se torne cada vez mais pão e menos circo, mais seriedade e racionalidade, e não o lugar do “jeitinho”, da malandragem e da falcatrua. Que o nosso vexame no futebol nos ensine a termos orgulho de sermos brasileiros por aquilo que realmente importa!