Mulheres Fálicas

               Sempre achei bobagem a teoria de Sigmund Freud sobre o complexo de castração, principalmente a tese de que as meninas sentem-se castradas e passam a invejar o pênis masculino. Pensava que a mudança nas meninas da fixação afetiva na mãe para o pai, e da zona de prazer do clitóris à vagina, poderia prescindir da idéia de castração. Porém, hoje me vejo obrigado a pensar diferente, mesmo sem concordar com Freud de modo completo.

              Quando vejo as mulheres caminhando nas ruas, enchendo as mesas dos bares e se sobressaindo na universidade, na política e no meio empresarial, não deixo de perceber que hoje elas possuem falos. Escrevo falo e não pênis porque, para Freud, o primeiro não é o órgão sexual masculino anatômico, e sim sua representação simbólica e imaginária. Assim, em minha imaginação, vejo protuberâncias fálicas se sobressaindo das saias, vestidos e calças de quase todas as mulheres.

              Vi, posso atestar isto, mulheres sacando seus falos para fora como pistoleiros sacando armas, impondo seus pontos de vista e vontade a homens acuados e atônitos.

              Aliás, tenho visto também gays mais machos que os héteros, porque os que se supunham másculos estão impotentes, chorosos e trêmulos. Enquanto isto, os gays, por lidarem bem com seus aspectos femininos, encarnam hoje a confiança, a soberba, a força e a determinação que só se vê nas mulheres.

            Minha mulher, e soa mais estranho dizê-la minha que dizer-se eu dela, há muito tempo montou em mim e passou a usar comigo freios, chicote e esporas, me fazendo manso. E, se não mais corcoveio e salto, em troca consigo às vezes ficar sem rédeas, sozinho a pastar num canto.

           Com os meus amigos não tem sido diferente, ou melhor, o diferente tem sido pra pior. Há os que operaram próstata e não possuem mais falo, só um inútil pênis. Outros ainda tentam usar seus falos, mas volta e meia se vêem também de pênis inútil na mão. Enquanto isto, as mulheres disputam o comprimento de seus falos: quem tem maior? E premiam seus desempenhos de sêmen: quem ejacula mais longe? E ostentam como troféus os homens que fizeram seus escravos sexuais, e não só.

            Talvez por isto, e não só pelas cirurgias plásticas, bioplastias, botox e silicones, que as mulheres hoje parecem travestis. É que, semelhantemente a eles, que aparentam ser mulheres com pênis, elas não só aparentam, mas são, de fato, mulheres com falos, o que faz com que, nós homens, as vejamos como aos travestis, com um certo estranhamento. Quem acorda de manhã ao lado de uma mulher e não a acha estranha? Quem aposta suas fichas com certeza sobre o que suas companheiras pensam e sentem? Enfim, as mulheres fálicas, hoje, são elas mesmas as caixas de Pandora, e somos nós, homens, as Pandoras que, por curiosidade, queimamos os dedos no fogo ou somos castrados.

            Não terão as mulheres de hoje, corpos femininos possuídos por seres alienígenas de gênero masculino? Pensando bem, tal hipótese explicaria tudo, porque me sinto colonizado, vivendo num mundo que não mais reconheço. E, enquanto escrevia isto, lembrava da lista de tarefas que “minha” mulher me concedeu fazer para servi-la, como prova de meu amor.