México

                 Nestas férias estive no México pela quarta vez. Tenho nora e netos mexicanos, e meu filho tem dupla nacionalidade, é meio brasileiro meio mexicano. Por isto agora me sinto conhecendo um pouco mais os mexicanos. Estar no México para mim equivale a um voltar no tempo, me lembra o Brasil de algumas décadas atrás, menos moderno, mais latino e mais católico. Ainda se vê no México famílias imensas, mães meninas, mulheres no papel de donas de casa, e adolescentes castos, ainda até certo ponto ingênuos e infantis, distantes da iniciação sexual precoce e da sensualidade maliciosa que encontramos no Brasil. Lá quase não se vê a geração do ficar, a juventude namora e casa, e as meninas grávidas casam com quem as engravida. Todos têm muitos filhos e para onde se olha se vê pais com suas crianças. Há também um grande envolvimento familiar, incentivado por tradições que provavelmente remontam às origens indígenas. Os mortos, por exemplo, são pranteados por nove dias que se repetem por três anos e, quando do dia de finados, muitos armam altares domésticos com fotos de seus mortos e os convidam a entrar na casa com caminhos de flores e a comida preferida deles. Mas, apesar disto, os mexicanos não são um povo triste, pelo contrário, me lembram os brasileiros baianos, pois adoram festa, e todos os eventos religiosos transformam-se em festejos populares. Além disto, são gentis e hospitaleiros, recebem muito bem, e em geral em quaisquer estabelecimentos os estrangeiros são bem atendidos.

               A Igreja católica no México é uma instituição ímpar, já que lá não goza do ar de decadência das sociedades cristãs modernas. As igrejas dedicadas à Virgem de Guadalupe, por exemplo, que representa a fusão da cultura indígena dominada com a cultura espanhola dominante, estão sempre cheias de fiéis, de crentes fazendo suas orações, de padres rezando suas missas, e de turistas. Tudo é muito vivo, cheio de fé, abarcando desde os mais miseráveis a algumas elites.

              A Influência dos vizinhos americanos é explícita, pois os mexicanos gostam de vans e SUVs que se assemelham a caminhões de tão grandes, só que com tais veículos eles circulam por ruelas estreitas de bairros, que em nada lembram as autoestradas norte-americanas. Como os seus vizinhos eles adoram fast food, só que nisto os mexicanos são bastante originais. Comem muito nas ruas em barracas de comidas típicas, onde abundam tortillas, burritos, nachos, quesadillas, tacos e outros pratos apimentados e cheios de gordura. Mas, ao mesmo tempo, se orgulham de sua história pregressa indígena e fizeram uma guerra com os EUA, que perderam por serem o lado mais fraco.

              Lembramos do Brasil quando se vê nas cidades do norte, mais próximas da fronteira americana, os massacres perpetrados pelo narcotráfico que se tornou multinacional. E há cartéis compostos por ex-militares, como as milícias que controlam favelas do Rio de Janeiro. Mas o narcotráfico mexicano virou multinacional, já está presente em mais de uma dezena de países. O México também já passou o Brasil em mortalidade infantil e IDH, mas conseguimos crescer mais em 2013. Enfim, o México é um país de praias belíssimas, música alegre, apesar de brega, e de uma população de sangue predominantemente indígena, apesar de pertencer ao NAFTA, junto com Canadá e EUA. Enfim, os mexicanos amam e odeiam os americanos, são nacionalistas, e disputam com os brasileiros a liderança da América Latina.