Iniciação ao Orientalismo

 

        O livro INICIAÇÃO AO ORIENTALISMO foi publicado em 2000 pelo selo Nova Era da Editora Record, como parte da coleção “Iniciação”. Aborda a visão que o Ocidente tem do Oriente expondo as principais correntes e escolas do pensamento oriental, abarcando Índia, China, Japão e Tibet. Esta obra é uma reedição condensada da obra “Introdução ao Orientalismo”, sendo extremamente útil a todos os que pretendem iniciar-se na cultura oriental, mas esbarram em textos herméticos e com visões segmentadas. O autor consegue expor com clareza, erudição e inspiração, pontos obscuros e polêmicos do pensamento oriental. Além de expor um panorama amplo do tema, o autor logra trazer ensinamentos filosóficos que falam à subjetividade, colocando os leitores em contato direto com a sabedoria oriental.

 

Trecho da Obra “Iniciação ao Orientalismo”

     Como o Zen quer a mente absolutamente livre, ele não tem nada a dizer, não existe uma filosofia Zen. Budha ensina que um soldado ferido não se perguntará em meio à agonia que flecha o feriu, de onde ela veio e quem a jogou, quererá primeiro ser salvo. Assim também é o Budismo; como um remédio só é necesário enquanto existe a doença, sua doutrina só é válida como um meio de iluminação, após certo estágio, deverá também ela ser abandonada de todo. O Zen a abandona de iníco, nele a natureza não é um problema, ou como afirmou um mestre citado por Suzuki: 

No Zen nada a explicar por meio de palavras. Nada a ser oferecido como doutrina santa. Dar-vos-ei trinta socos quer concordeis ou negueis. Não ficais silenciosos nem sejais tagarelas!

      No Zen não há dogmas ou livros sagrados, não há interesse por deus e a alma, ou pela salvação e o pecado, nele nada se ensina. Ou melhor, o Zen vive, assim só pode ser ensinado e aprendido na prática. Conta-se de um monge que perguntou ao mestre Joshu Jushin (778-897) sobre a verdade fundamental do Zen, e que este respondeu com outra pergunta:

Você já comeu?

Sim – respondeu o monge.

Então vá lavar os pratos – acrescentou Joshu.

      Por isto a vida monástica no Zen não é vitalícia, é considerada uma experiência temporária, necessária à maturação do espírito. Mas o mestre Zen (Rochi) não quer o discípulo preso a si, pelo contrário, quer vê-lo voar com asas próprias, e quando isto acontece, deve o monge descer à praça pública. Tal imagem alude à lenda de que Bodhidharma foi visto pela última vez entrando num mercado com os sapatos na cabeça. Também os famosos dez quadros da iluminação através do Zen terminam com a imagem de um homem entrando no mercado. Isto significa que o mestre Zen, após alcançar a iluminação, deve retornar ao mundo como um homem comum, anônimo, vivendo em meio à lama sem se sujar. Portanto, ele deve recusar a glória, a fama e o isolamento da vida monástica. No Zen ser monge não é algo eterno nem garantia de iluminação, o satori pode ocorrer com qualquer um em qualquer momento. E quem não for comum passará a sê-lo, pois iluminar é simplesmente viver nossa própria natureza, sem separação entre nós e o mundo.