Esperança e Espera

            Por que esperança tem a ver com espera, se esperar é desesperar-se, enquanto o tempo passa parecendo não passar? Quando espero, vivo num futuro desejado, mas em geral o futuro ignora os desejos através de circunstâncias imprevistas. Se formos realistas e previdentes podemos antever o que chamamos de imprevisto, mas acidentes acontecem e nos pegam desprevenidos. Além disto, certezas futuras, como a da morte, são ignoradas no dia a dia, para não macular o presente com um indesejado futuro certo, mas incerto na hora, devida ou indevida. No fundo a questão da esperança e da espera implica outras duas questões: os desejos e a administração do tempo. Se não desejarmos fica difícil se estressar com o rumo dos acontecimentos, já que o que quer que aconteça faz parte do possível. Sem desejos, viajamos pelo mundo ao sabor das circunstâncias, degustando ou padecendo o presente de cada dia, mas de qualquer forma, usufruindo a calma de não sofrer de frustração, e a paz de não ter medo do que venha a acontecer, pelo menos antecipadamente. Sem desejo nosso ego aprende a não ter ciúmes, inveja, apego, vícios, consumismo, e navegamos as circunstâncias com um vazio na alma, cheia de contemplação do instante.

            De outro lado, se soubermos administrar o tempo, saberemos viver cada instante como o único ou último, extraindo dele o sumo da vivência em atenção plena. Viveremos a plenitude do aprender, já que estaremos focados no momento, sem deixar escapar as coisas boas: as manifestações de amor, a paz, o prazer, a admiração da beleza. Se o instante for pleno, estaremos nele de corpo e alma. Ou melhor, se estivermos no instante de corpo e alma, sempre ele será pleno. E não estaremos esquecendo dele ou fugindo dele na espera do futuro, não estaremos preocupados com o passado, medrosos de que se repita ou desejosos de que venha novamente o que ele teve de melhor. Perceberemos que o melhor é o que está presente, diante de nós, aqui, onde estamos, onde devemos colocar nosso coração. Assim, passaremos ao largo dos pessimismos ou dos fanatismos enlouquecidos, compreendendo que tudo tem o seu tempo, e que nada, absolutamente nada, vem para ficar.

            A felicidade está em sabermos passar com o que passa, contribuindo para que passe, já que a mudança é que faz o jogo. Nada impede que queiramos o novo e o diferente, desde que esta vontade de ir para a frente não nos impeça de trabalhar no aqui e no agora. Pois quando o tempo parece retroceder, e as coisas parecem se desfazer em vez de avançarem, não cabe ficar lamentando, já que o que pode ser feito devemos estar fazendo agora. Daí o segredo de administrar o tempo: ter memória sem ter saudosismo, ter esperança sem ficar esperando, estar presente sempre. De outro jeito as coisas não se ajustam, já que o tempo é feito de momentos contraditórios, sucessivos ou não.

            Assim é, e assim será. Sou, e se deixar de ser, continuarei sendo. Pois que os tempos são relativos, e todo o passado e todo o futuro está agora.