Como Lavar Banheiros
Eu era um mero adolescente tentando descobrir quem era quando conheci um monge japonês chamado Tokuda, que tinha vindo ao Brasil para divulgar o Zen Budismo. Ele na época ministrou uma palestra que jamais esqueci, sobre como lavar banheiros. Informou ele que na tradição budista japonesa era uma honra lavar banheiros, porque segundo a história, muitos mestres Zen haviam atingido a iluminação (satori) lavando banheiros. Quando lavamos banheiros, se for o caso de o fizermos, tendemos a fazer com desagrado, com repulsa e mal-estar, quando não com mau humor. Ou fazemos cantarolando uma música, ou seja, colocando a consciência noutra coisa, de modo a fugir do momento presente e sua tarefa de asseio. Daí que lavar banheiros sem nojo, considerando-a uma tarefa nobre e importante, feita com concentração mental, de modo que possamos fazer o melhor possível e com prazer, certamente tal trabalho seria uma forma de meditação, meio possível de um estado de iluminação.
Quando a tradição japonesa Zen budista diz que podemos iluminar lavando banheiros, está dizendo, em outras palavras, que podemos ser absolutamente felizes, fazendo qualquer coisa, pois a felicidade não está no que acontece, mas na atitude mental para com o que acontece. O que entra por nossos sentidos é sensação, disto o que registramos e identificamos com a mente é percepção, mas o passo natural a seguir é emitir um juízo de valor: isto me dá prazer e isto dor, isto eu gosto e quero e aquilo desprezo e não quero, etc. Ter atitude Zen é simples, basta sustar o raciocínio discriminativo, basta não emitir nenhum juízo de valor: isto está acontecendo porque é um fato com o qual eu preciso lidar, mas essencialmente não é bom nem mau. Aliás, a essência de nós mesmos é a vacuidade, o satori, e quando estamos vazios refletimos o mundo, como um espelho, em harmonia com tudo, em paz.
O recado é simples, basta não dar importância alguma àquilo que todos dão uma imensa e grande importância, e uma imensa e grande importância àquilo que todos não dão a mínima. O importante é rir, não nos levarmos a sério, pois existe por trás de tudo o humor do universo, o sorriso de Deus se Deus existisse. O banheiro e a cozinha são as partes mais importantes da casa. Lavar banheiros é tão importante quanto ter sucesso profissional, ficar rico, casar e ter filhos. Lavar a cara e tão essencial quanto ser um cara de sucesso. Mais que isto é estar com os amigos, que aceitamos como são, sem querer transformá-los, é estar no mundo percebendo o que não pode ser transformado e transformando sem esforço sobre-humano o que pode e deve ser reformado para melhor. E melhor é distribuir bondades, carinhos, apoios, sorrisos.
Fiquemos zen, sem stress, sem ansiedade, em paz, focados na parede nua, esvaziados de nós mesmos, enfim, felizes.