Ansiedade

              Sempre me pareceu inquietante ver nos zoológicos a jaula de alguns animais inquietos, caminhando de um lado para outro dentro de seus espaços mínimos, considerando seus instintos selvagens de grandes espaços. Este ir e vir em círculos, sem saída e alternativas, se me afigura uma prisão psíquica, ou seja, mais que a prisão do corpo remete a um psiquismo “pendurado”, como um computador trancado. Porque estar preso pode nos levar a uma atitude de adaptação, de “vamos levar a vida assim até que chegue a hora de ser livre”. Enquanto que o caminhar de um lado pra outro tampouco é “vamos planejar a fuga e empreendê-la, mesmo sob riscos”. É pior que isto, significa não só não poder ir, mas também não se saber pra onde e, ao mesmo tempo, não se conseguir ficar, de modo que, num limbo entre o querer e o poder, fica-se com a impotência sofredora.

            Assim é a ansiedade, querer e não poder, e ter de aguardar, e não se querer aguardar, e preferir-se a perspectiva de não ter perspectiva que a perspectiva de sim e não sem definições. A indefinição é o pior dos mundos, traz angústia, um sofrer profundo e sem motivo explícito, mas, o que é pior, traz ansiedade, ou seja, um subir pelas paredes da imaginação, um roer unhas inexistentes até sangrar, um arrancar os cabelos mesmo quando não se tem cabelos, enfim, um escalpelar-se diante do espelho da insônia enquanto a noite não termina e o dia não amanhece.

            Nestas horas muitos procuram terapia, ou seja, alguém que ajude a ver e a decidir. Mas nunca consegui ser ajudado e jamais decidi por outros, sempre me vi sozinho tendo que me virar do avesso, sem pai nem mãe, enfim, desamparado. Mas mesmo nestas horas não me sentia um fraco, porque, afinal, poder se virar sozinho é um sintoma de força. Mas de que adianta ser forte se não se tem pra onde ir? Se o tempo escoa lento apesar da nossa pressa? Se ninguém escuta mesmo se gritamos a todo pulmão? Se a porta não abre mesmo quando batemos nela insistentemente?

            Vou engolir meu chiclete pensando estar engolindo um dente, mas no fundo o que se engole são sapos e raiva, gostaríamos de fazer as coisas de outro jeito, de vivermos uma vida diferente.